Por Gisela Gutierrez del Cueto

Queridíssimos colegas não há desculpa para um hiato tão grande em nossas entrevistas a não ser a total velocidade em que corre a vida. O tempo voa e quando nos damos conta nossa jovem Sociedade Regional Leste de Coloproctologia já vai completar 10 anos de vida e não consegui manter nenhuma regularidade. Para compensar esta falha, nosso entrevistado é médico em Campos dos Goytacazes, cidade onde foi realizada a reunião que criou a SRLCP. Apresento a vocês o Dr. Marcos José Quintanilha um “papagoiaba” que criou raízes em Campos, a terra da goiabada. Vamos saber um pouco da vida do nosso entrevistado, mas já adianto que seu atual xodó é o V Congresso da SRLCP que será realizado em Campos, no final do mês de junho de 2017. Marcos é o atual presidente da SRLCP e vem realizando um trabalho muito interessante focado no fortalecimento desta jovem sociedade. Aqui vamos falar um pouco de Campos e seus atrativos, mas estes servirão apenas para os acompanhantes já que a programação é intensa e cada minuto será precioso. Festa só à noite.

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GdC - Medicina foi sua primeira opção profissional?
MQ - Se ser astronauta, piloto de fórmula 1 ou super herói não contar, foi.

GdC - O que influenciou sua escolha?
MQ - Sonhos de criança de família humilde, onde ser doutor significava ter vencido na vida.

GdC - Como foi sua trajetória na formação escolar e universitária?
MQ - Estudei em colégios públicos no 1º e 2º graus, passei para faculdade particular de Teresópolis e consegui formar devido ao antigo programa de financiamento federal (crédito educativo), tendo quitado o mesmo o mais breve possível e ser grato ao governo por ter me dado essa oportunidade.
Fiz residência médica de cirurgia geral no hospital Salgado Filho e coloproctologia inicialmente no Cardoso Fontes, mas devido a problemas de credenciamento do MEC com o hospital, após 18 meses, recomecei no Hospital da Lagoa.

GdC – Faculdade particular deve ter sido complicado.
MQ - Sim, meu pai era serralheiro e minha mãe dona de casa que ajudava com costura e sabia fazer uma torta salgada única, tínhamos uma vida apertada, mas nunca passamos necessidades. No inicio foi mais difícil, mas a partir do terceiro ano consegui uma bolsa como acadêmico no Pronto Socorro de Magé, pude assim pagar algumas despesas, e fui ajudado pelos meus grandes amigos, diria até irmãos não consanguíneos, com os quais morei sem pagar o aluguel. Devo isso a eles até hoje.

GdC - Qual sua motivação para se especializar em Coloproctologia?
MQ - Na cirurgia geral, passei a me identificar com a especialidade, devido aos portes das cirurgias, temos para qualquer gosto (pequenas, médias e enormes), um vasto campo ambulatorial (exames e consultórios especializados) e não convencendo assim mesmo com as explicações lógicas, pois todo mundo quer saber por que esta, no meio de tantas especialidades, temos a resposta padrão: alguém tinha que fazer.

GdC - Como você vê a medicina hoje?
MQ - Tenho duas respostas à essa pergunta:
Pelo idealismo: um sacerdócio. Pela atualidade financeira e de profissão autônoma: perdendo os seus valores , onde as cobranças são muitas, o retorno financeiro cada vez menor e um sistema de judicialização cada vez maior, impondo pressão sobre nossos atos, com risco de punição, devido um judiciário desinformado e que literalmente acha que o médico ganha muito, trabalha pouco e está sempre errado na maioria das vezes, não enxergando o todo (governo, condições de trabalho, relacionamento profissional) e que o paciente, desculpe, no caso o familiar dos pacientes, sempre tem razão, pois são eles que fazem as queixas, onde muitas são infundadas. Não devemos abrandar a nossa classe, pois existem muitos que realmente devem ser punidos pelas atrocidades que cometem e que no passado existia uma condição de impunidade, tendo como consequência um velho ditado “erro de médico a terra cobre”.

GdC - Por que a opção de morar e trabalhar em Campos?
MQ - Nasci em em São Gonçalo e residia em Niterói. Meus filhos eram pequenos, não conseguia acompanhar o dia deles e perdia, na minha opinião, coisas importantes, que não conseguiria recuperar no futuro. Tinha a vida, corrigindo, tenho a vida ainda corrida, mas consigo um convívio familiar, tipo: levar filho na escola, ver um jogo deles, apresentação de dia dos pais, final de ano, almoçar às vezes com a família e nunca ficar ausente de casa por muito tempo. Campos foi uma oportunidade que apareceu e hoje não me arrependo pela escolha que fiz, tive dificuldades no inicio, mas sempre é assim, venho conquistando meu espaço e me sinto integrado a esta cidade.

GdC - Quais eram os seus sonhos, quais estão sendo possíveis?
MQ - Ter uma vida em família, conseguir exercer minha profissão com qualidade e ser reconhecido por isso. Apesar de trabalhar em uma cidade do interior, conseguimos na medida do possível desenvolver uma medicina de qualidade, onde tenho um serviço, o hospital escola Álvaro Alvim, (Faculdade de Medicina de Campos), atendemos ao SUS e conseguimos realizar um bom volume cirúrgico e ambulatorial (exames e consultas).

GdC – Rasga aí uma seda pra família...
MQ - Tenho uma excelente esposa, uma grande mulher, e todos os elogios não conseguiriam descrevê-la. É uma médica que entende e pratica muito bem a relação médico paciente. Recebe, por isso, muito carinho de seus pacientes, algo muito raro hoje em dia, o que demonstra sua capacidade profissional em lidar com casos crônicos, que na sua especialidade de endocrinologista é fundamental. Somos uma família normal com problemas, alegrias, perdas e vitórias. Tenho dois filhos “aborrecentes” e hoje entendo como minha mãe era uma Santa, mas não iria querer nada diferente. Amo muito minha família..

GdC - Como aproveita seus momentos livres, tem algum hobby?
MQ - O melhor hobby hoje em dia é descansar, mas gosto de viajar, priorizo isso no meu cotidiano, curto ir para minha casa na praia e beber com amigos, tento praticar esportes.

GdC - Conte eventos marcantes da sua vida profissional, tristes ou engraçados.
MQ - É triste termos sempre a incapacidade de ajudar alguns pacientes em estado de doença avançada, pois muitas vezes não depende só da gente.
Foi engraçado quando um paciente conhecido meu, sob efeito do anestésico, no caso Quetalar, fez declarações hilárias e surpreendentes no que se referia a sua pessoa, ocorrendo um constrangimento e depois um ataque de risos da equipe pelo o que ocorria naquele momento.

GdC - Fale sobre a experiência de presidir a SRLCP.
MQ - Não é fácil presidir uma sociedade, pois a responsabilidade de mantê-la com credibilidade e torná-la forte, tem sido minha meta. Apesar de ser uma pessoa desconhecida do meio, sou muito grato a todos os grandes nomes, membros renomados da nossa especialidade que acreditaram em mim e acharam possível essa condição.

GdC - O próximo congresso será em Campos, como será?
MQ - Temos trabalhado, refiro-me a todos os participantes das comissões montadas para realizar um bom congresso e ao mesmo tempo tentar inovar com uma grade cientifica de poucos itens, temas atuais e de importância no nosso dia a dia, com prática ao vivo.

GdC - Fale um pouco da cidade que vamos conhecer.
MQ - Campos dos Goitacazes é uma cidade do interior, mas com características de cidade grande, pelo número de habitantes residentes (ultimo censo consta 487.186 moradores), mas temos um número flutuante, das cidades menores ao nosso redor, que utilizam os serviços da nossa cidade, tendo assim um aumento de aproximadamente 150.000 pessoas. É uma cidade de características agro rural, com os setores agropecuários com influência forte na economia, assim como o setor de serviços. Temos algumas industrias, mas nossa esperança está no setor portuário, quero dizer, “Porto do Açu”, no município vizinho de São João da Barra e localizado na divisa. Eu acredito que com isso que um crescimento rápido irá ocorrer.
Campos era para ser uma cidade moderna, pois durante muito tempo seu orçamento anual, acrescido com os royalties do petróleo, tinha valores maiores que muitas capitais do nosso país, porém devido a gestões publicas corruptas, não fugindo a regra geral da nossa politica nacional, nos encontramos em momento de crise, com falta de dinheiro nos cofres públicos, prejudicando os serviços de uma forma geral.
Campos apresenta curiosidades históricas importantes:
As terras dos Índios Goitacazes começaram a ser colonizadas pelos portugueses em 1627, com a chegada dos "Sete Capitães". Pertenceu à capitania de São Tomé e se tornou, cinquenta anos depois, no dia 29 de maio, a vila de São Salvador dos Campos. Foi elevada à categoria de cidade em 28 de março de 1835.
Foi a 1ª cidade da América Latina a ter luz elétrica.
O nosso farol de São Thomé foi criado e feito pelo mesmo autor da torre Eiffel (Gustave Eiffel).
Temos um canal artificial entre Campos e Macaé, navegável à época, ordenado pelo Imperador Dom Pedro II, feito por escravos para levá-lo no deslocamento entre as duas cidades.
Foi a ultima cidade a excluir a escravidão, pela força e influência dos coronéis na corte imperial.
Campos é o maior município do estado do Rio de Janeiro em extensão.
Campistas com importância na historia política do Brasil:
José do Patrocínio e Nilo Peçanha (Presidente do Brasil entre 1909/1910)

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Para finalizar nossa conversa prometo trazer novos nomes e dar ênfase às nossas meninas. Aliás, a nossa próxima presidente será a Dra Martha Sperandio, que nos levará à um passeio pelo Espírito Santo no próximo congresso, a quem entrevistaremos antes do evento.

Abraços à todos